Deslocamentos para o trabalho revelam contrastes entre as cidades do ABC paulista
Dados do Censo 2022 mostram diferenças marcantes entre os municípios em relação ao local de trabalho, tempo de deslocamento e uso do transporte coletivo
Os dados do Censo 2022 revelam que os trabalhadores das cidades do ABC paulista enfrentam realidades muito distintas quando o assunto é mobilidade urbana. As informações sobre local de trabalho, tempo de deslocamento e meio de transporte mostram um retrato desigual — em que alguns municípios concentram empregos e infraestrutura, enquanto outros funcionam principalmente como cidades-dormitório.
Rio Grande da Serra é a cidade da região onde a maioria dos trabalhadores atua fora do município
O mapa da região evidencia a dependência de algumas cidades em relação a polos vizinhos.
Rio Grande da Serra é a que mais envia trabalhadores para fora: 55,7% dos ocupados têm o emprego em outro município.
Na outra ponta, São Bernardo do Campo retém a maior parte de seus trabalhadores — apenas 23% têm o local de trabalho em outra cidade. São Caetano do Sul (40,7%), Mauá (37,6%), Diadema (34,8%) e Ribeirão Pires (34,1%) apresentam índices intermediários, enquanto Santo André, com 30,7%, mantém boa parte de seus empregos dentro dos limites municipais.
São Bernardo e Santo André concentram empregos; Rio Grande depende de vizinhos
A tabela com o local de trabalho principal confirma o papel de São Bernardo do Campo e Santo André como polos regionais: 71,5% e 63,1% dos trabalhadores, respectivamente, exercem suas atividades no próprio município.
Em contraste, Rio Grande da Serra aparece com apenas 41,7% dos ocupados trabalhando na cidade — um dos menores índices da região. Esse padrão reforça o caráter residencial do município, que depende de outras cidades para oferta de emprego formal.
Carro domina nas cidades mais ricas; ônibus e trem são maioria nas periféricas
O modo de transporte utilizado também muda conforme o perfil socioeconômico dos municípios.
Nas cidades com maior renda média, como São Caetano do Sul, o automóvel é amplamente dominante — 52,2% dos trabalhadores passam mais tempo no carro.
O mesmo ocorre em São Bernardo (41,5%) e Santo André (42,2%), onde o transporte individual tem forte presença.
Nas cidades com menor renda, o transporte coletivo lidera: 39,4% dos trabalhadores de Diadema usam ônibus, enquanto Rio Grande da Serra tem 33,9% de uso de trem ou metrô — o maior percentual da região, evidenciando a importância da Linha 10 da CPTM.
Os deslocamentos a pé ou de bicicleta, embora minoritários, ganham espaço em municípios compactos como São Caetano (16,7%) e Diadema (18,7%).
Deslocamentos mais longos nas cidades periféricas; São Caetano tem viagens mais curtas
O gráfico sobre o tempo habitual de deslocamento revela fortes diferenças entre as cidades.
Em Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, quase um terço dos trabalhadores leva mais de uma hora para chegar ao emprego — reflexo das distâncias maiores e da dependência do transporte público.
Já São Caetano do Sul se destaca pelos trajetos mais curtos: 8% dos moradores chegam ao trabalho em até cinco minutos e cerca de metade faz o percurso em menos de meia hora, o que indica alta concentração de empregos no pequeno território do município.
Diadema e São Bernardo do Campo apresentam perfil intermediário: a maioria dos trabalhadores gasta entre 15 minutos e uma hora, mas quase 20% enfrentam deslocamentos de duas horas ou mais.
Retrato da mobilidade regional
Os quatro gráficos, em conjunto, traçam um retrato nítido das desigualdades de mobilidade no ABC paulista:
-
São Bernardo, Santo André e São Caetano concentram a maior parte dos empregos e registram menores deslocamentos intermunicipais.
-
Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra dependem fortemente de cidades vizinhas, com viagens mais longas e maior uso de transporte público.
-
O tempo de trajeto e o meio de transporte refletem o grau de desenvolvimento urbano e de oferta de emprego em cada local.
Apesar da proximidade geográfica e da história compartilhada, o ABC paulista ainda mantém fronteiras claras quando o tema é mobilidade — fronteiras que se desenham diariamente nas horas gastas no trânsito e nas longas viagens de trem e ônibus rumo ao trabalho.